Não admitir que se trate Dilma Rousseff como "presidenta" é puro preconceito linguístico, porque uma palavra passa a existir no momento em que ela é usada e o seu uso frequente entre os falantes faz com que ela crie raízes definitivas. É assim que a língua se transforma. Foi assim que a palavra "orfindade", que Camões usa no Terceiro Canto de "Os Lusíadas", estrofe 125, poema maior de nossa língua, virou "orfandade". Que "despois", na estrofe 118 do mesmo Terceiro Canto virou "depois" e assim vai. Os exemplos são inumeráveis.
Para quem não assistiu "José e Pilar", documentário sobre o cotidiano do casal José Saramago (único autor da Língua Portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura) e sua esposa Pilar del Rio, jornalista e tradutora de sua obra para o espanhol, a hoje viúva do mestre se declara "presidenta" da Fundação Cultural José Saramago. Ela argumenta no filme que a palavra "presidenta" não existia porque não existia o cargo. Uma vez existindo uma mulher que preside, ela pode (e deve, segundo Pilar) ser chamada de "presidenta". Se José Saramago não a corrigiu, quem é que corrigirá?
Edson Amaro de Souza
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
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