domingo, 29 de novembro de 2009

A conversa tem de chegar à cozinha

Há muitos anos não há concurso para merendeira(o)s na rede pública estadual de ensino e essa falta afeta de perto a qualidade da merenda oferecida às nossas crianças, questão que não pode ser desprezada, pois as escolas públicas atendem crianças de comunidades carentes que, muitas vezes, têm a merenda como a principal ou única refeição do dia.
Não havendo concurso nos últimos anos, os(as) profissionais concursado(a)s têm se afastado da rede por motivos de saúde, aposentadoria, morte ou demissão, sendo substituídos por terceirizados, o que prejudica muito a organização do movimento sindical entre esses profissionais que também são importantíssimos para a Educação de nossas crianças e jovens.
Já diz o ditado popular que saco vazio não para em pé e, por isso, temos que discutir não apenas as condições de trabalho e a estabilidade de quem trabalha na cozinha, como também a qualidade e a quantidade da merenda escolar.
Convido a você que lê este texto a refletir por que nossos alunos não têm refeições que se igualem em quantidade e qualidade às dos restaurantes populares? Uma das razões é o pouco dinheiro que o governo estadual investe na alimentação de nossos alunos, que é apenas R$ 0,32 por cabeça diariamente. Ou seja, são precisos mais de dez alunos para que a escola compre um quilo de feijão e outro de arroz. Pior: os diretores têm de comprar apenas em estabelecimentos conveniados com o governo do estado, ao contrário das donas de casa que compram onde acham mais barato.
No início do ano, a secretária de Educação, Teresa Porto, mostrou-se disposta a elevar essa verba para cerca de R$ 2,30 por aluno diariamente. Desde que as cozinhas fossem terceirizadas. Vale dizer que uma merendeira concursada ganha pouco mais de R$ 500,00 por mês, o mesmo que uma merendeira que entre na escola indicada por uma empresa terceirizada, mas esta que não é concursada custa cerca de R$ 2000,00 para os cofres do estado. Não é preciso ser bom em Matemática para saber que sairia mais barato empregar gente concursada, não é mesmo? Mas o governo prefere os terceirizados porque essa diferença entre o que é pago por cada profissional e o que entra no bolso de quem trabalha vai para as gordas contas bancárias de empresários amigos do governador que, alegres e satisfeitos, agradecerão contribuindo com suas faraônicas campanhas eleitorais. Temos então de lutar para que esse dinheiro gasto com o enriquecimento dos amigos do governador melhore o salário de quem trabalha na cozinha e que todos os terceirizados sejam substituídos por profissionais concursados e com estabilidade.
É preciso dizer ainda que esses números indecentes impedem que nossos alunos tenham uma merenda de qualidade. Por exemplo, recentemente, os deputados da Comissão de Educação da ALERJ incluíram no cardápio escolar o queijo de cabra. Você já viu isso sendo servido em alguma escola estadual? Com essa mísera verba paga por cada estudante, esse cardápio torna-se uma lei para inglês ver. Mas a secretária Teresa Porto declarou-se disposta a destinar R$ 2,30 diariamente por estudante desde que esse dinheiro beneficiasse os amigos do governador, como nos restaurantes populares, onde todos são terceirizados, o que ajuda a enriquecer os empresários que apóiam o governo estadual. Assim sendo, dinheiro suficiente para melhorar e muito a merenda escolar há, mas eles só querem gastá-lo em proveito próprio. É preciso fazer uma campanha para que esse dinheiro esteja disponível agora mesmo e liberar os diretores para que comprem alimentos onde for mais em conta, desde que administrem o dinheiro com honestidade e transparência, sendo fiscalizados pela comunidade escolar. E, nas comunidades rurais, que se dê prioridade às cooperativas de produtores locais, fortalecendo a agricultura familiar e os pequenos produtores.
ESTUDANTE QUE SE ALIMENTA BEM APRENDE MELHOR!

sábado, 28 de novembro de 2009

No Brasil, é mais barato ler em Inglês

É uma piada de muito mau gosto chamar o Brasil de "país em desenvolvimento". Não pode ser considerado um país em desenvolvimento um lugar em que o meio ambiente continua sendo constantemente agredido apesar de todos os alertas que recebemos não tanto dos meios de comunicação, mas da natureza; um país em que são raras as bibliotecas; em que as pessoas têm de pagar para ter algum lazer, pois os espaços públicos onde fruir o tempo livre em segurança não são muito comuns; em que as escolas formam analfabetos funcionais; um país cuja segurança alimentar é ameaçada pelo aumento escandaloso dos transgênicos, que nos fazem campeões mundiais em consumo de agortóxicos e reféns das multinacionais que os produzem. Isso são apenas alguns itens de uma lista interminável de atrasos que sofremos, por obra e graça de nossos governantes que não têm projeto de país. Isso é assim desde o Ipiranga, quando aceitamos que um portuguesinho mimado se tornasse imperador ao invés de proclamarmos nossa República, como o fizeram os demais países do continente.
É também uma piada de mau gosto quando se fala de inclusão digital se nós nem chegamos à democratização do livro e da leitura, revolução operada por Gutenberg no tempo das Grandes Descobertas, como bem lembrou Castro Alves no poema "O Livro e a América": "o século que viu Colombo / Viu Gutemberg também".
Nossas elites, e, por tabela, a massa alienada, adora imitar os EUA no que eles têm de pior: o consumismo, o conservadorismo e costumes totalmente deslocados de nossa realidade: comemorar o Halloween, idealizar um Natal nevado (que estupidez as montanhas de algodão que são gastas nos enfeites de Natal para imitar a neve que não temos!). Mas não imitam no que há de realmente progressista naquele país: o voto facultativo, a autonomia dos estados, a vulgarização dos livros.
Durante a Segunda Guerra Mundial, logo que o Brasil se juntou aos países aliados, Erico Verissimo foi convidado a dar palestras em uma universidade americana sobre literatura brasileira. Política de boa vizinhança. As suas experiências nessa primeira viagem aos EUA estão no livro "Gato Preto em Campo de Neve". Lá ele relata como as editoras democratizaram o acesso à leitura: tanto os clássicos da literatura quanto os mais novos títulos aparecem em edições populares e baratas, nada luxuosas, nas bancas de jornal.
Mais de 60 anos se passaram e quem vai ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro pode encontrar, na Livraria da Travessa, obras como "The Last Man", de Mary Shelley, maravilha de 395 páginas (incluindo as notas), publicado por Wordsworth Editions, por apenas R$ 9, 90. Quanto custaria se estivesse em português, publicado por uma editora brasileira?

domingo, 22 de novembro de 2009

A Odisseia negra

Foi com muita alegria que encontrei, recém-chegados à biblioteca da escola estadual onde trabalho, dois exemplares de um livro redentor: A Criação do Mundo – Contos e Lendas Afro-brasileiros, de Reginaldo Prandi, ilustrado por Joana Lira (ed. Companhia das Letras). Digo redentor por ser uma ferramenta de grande valia para que nós, educadores e educadoras, possamos cumprir a lei 10639, que versa sobre o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, salvando os estabelecimentos de ensino de sua tradicional visão eurocêntrica. E só aqueles corações que ensinam dispostos a levar adiante a chama de uma educação libertadora, como a queria Paulo Freire, sentem o quanto é difícil tratar desse tema em sala de aula. A ideologia dos colonizadores, que saquearam a África e escravizaram seus braços e estupraram seus ventres, sob o pretexto de que eles estavam “pagando seus pecados”, persiste. O oligopólio dos meios de comunicação contribui para manter vivos todos os preconceitos contra a cultura afro. A mídia que conseguiu apagar, nos grandes centros urbanos, a memória das centenárias cantigas de roda que divertiram nossos avós e bisavós em sua infância, também consegue, graças às falas intolerantes de líderes religiosos fundamentalistas, teleinquisidores, dar prosseguimento ao ódio racista contra a cultura afro-descendente. Que o diga quem já experimentou, como eu, defender, em sala de aula, a beleza e a importância das narrativas iorubás, a interpretação do mundo pela teogonia que aqui aportou, fortíssima, nos navios tumbeiros, os ensinamentos contidos nas histórias dos orixás, fator indispensável na resistência dos negros que lutaram não só pela sua liberdade, dos seus maridos, esposas, filhos e filhas, mas também por amor aos seus deuses.
O autor, Reginaldo Prandi, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo,é um profundo conhecedor da cultura afro-brasileira, tendo escrito vários estudos sobre o candomblé. Nessa obra destinada ao público infanto-juvenil mostra-se ele muito habilidoso na construção desse pequeno romance, que elenca várias pequenas histórias sobre os orixás, tendo, como fio condutor a história de Adetutu, uma jovem negra capturada na África que, na sofrida travessia no navio negreiro, relembra as várias lendas que sua avó lhe contou, exercendo, assim, duplo papel: quando acordada, é a personagem principal; quando dorme, é apenas coadjuvante que observa as aventuras dos orixás criando o mundo, inventando a agricultura, a metalurgia, a religião, as instituições. Ao final de cada pequena história, sempre uma das entidades lhe dá um regalo que ela, atenciosa, guarda num saquinho que manterá consigo toda a vida. Chegando na Bahia, é batizada e recebe o nome de Maria da Conceição. Escrava de ganho, tendo que trabalhar nas ruas para os seus senhores, consegue, por fim, comprar sua alforria e, juntamente com outros negros alforriados, funda um terreiro em Salvador, onde poderá utilizar os dons que recebeu dos orixás para preservar a memória e a cultura de sua gente.
O livro termina com um apêndice composto de pequenos artigos e fotografias que explicam a quem não tenha familiaridade com o tema os principais conceitos do candomblé.
Leitura recomendada para todos e todas que desejam construir um país sem preconceitos raciais nem ódios religiosos.

Edson Amaro é professor de Língua Portuguesa da rede pública estadual do Rio de Janeiro, licenciado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Estudos Literários pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE), núcleo São Gonçalo, RJ.

O cotidiano da luta abolicionista nas páginas magistrais de um romancista estreante

Já Aristóteles, em sua Poética, discutia a relação entre a poesia e a História. Dizia ele que o que diferenciava os livros de Homero da obra de Heródoto não era o fato de ter um escrito em verso e o outro em prosa, mas o fato de Heródoto ter contado a História como ela foi e Homero, como poderia ter sido. Até hoje há obras que mostram bem como pode ser fértil a relação entre a Literatura e a História e quantas trocas podem haver entre elas.
Mãe África Pai Brasil, do estreante Dudda Seixas (JM Gráfica e Editora, Salvador, 2007) é uma obra que merece ser lida por todos e todas que se interessam pelo Brasil Império e pela luta pela Abolição. O romance é narrado em primeira pessoa por Norambo, um negro que é capturado na África, trazido ilegalmente ao Brasil num navio tumbeiro, quando o tráfico de escravos já havia sido abolido, e vendido a um latifundiário que despistava a lei usando o seguinte expediente: enterrando os negros em um cemitério clandestino em sua propriedade, não revelava as mortes de seus escravos às autoridades e, assim, podia reutilizar os documentos dos mortos para manter em cativeiro os novos escravos recém-chegados da África.
Dudda Seixas reconstitui, com tintas fortes, o sofrimento dos negros no navio negreiro e na fazenda, até que o protagonista, batizado com o nome de Felipe dos Anjos, tem a sorte de ser mandado até a capital da Bahia, como única propriedade da filha deserdada do coronel e acaba sendo entregue a um médico abolicionista, que o mantém em sua casa, alfabetiza-o, liberta-o provando a ilegalidade de seu cativeiro para que ele possa trabalhar como assistente de seu filho advogado e a consciência crítica do ex-escravo curioso e persistente é uma faca afiada que jamais perdeu o gume: “Para quem fosse conhecer o Brasil pela sua Constituição e Código Penal, seguramente teceria elogios a respeito de tão boas leis. De fato, a nossa legislação sempre foi baseada, digo, copiada, das leis mais avançadas do mundo. Porém, a cultura do descumprimento da lei instalou-se no brasileiro. Dessa forma, o estudo da lei passou a ser o estudo das brechas da lei. Ou seja, de que forma pode o cidadão não cumpri-la? Aliado a isso tem-se uma Justiça morosa. Com duas características singulares: primeiro é uma classe formada pelos senhores do açúcar e do café, principalmente em São Paulo. Eles começam como advogados, viram juízes, depois deputados, e assim se perpetuam no poder. Segundo, os cargos mais altos da magistratura são por indicação política. Não há independência. (pág. 182)”
E ao ler essas páginas, o leitor ou a leitora será imediatamente transportado no tempo e no espaço até a cidade de Salvador século XIX, retratada com detalhes, no cotidiano de sua expansão e da agitação das campanhas abolicionista e republicana. O romance, além disso, celebra o encontro das culturas e das etnias, a diversidade que constitui a riqueza da cultura brasileira, e mostra que é nas diferenças que reside a beleza da vida: “O mais importante, me parece, não é a fé em Deus ou em Olorum, é a crença no amor, na possibilidade de partilhar, de unir pessoas. (pág. 88)”
Ao final do romance, as considerações do narrador-personagem, que conta a história em algum momento no início do século XX, servem também, com poucos retoques, para retratar o Brasil do século XXI:
“Ainda temos coronéis, capitães e outros malfeitores. Ainda não se cumprem as leis e os homens da cúpula da Justiça são indicados pelos homens da política, não há independência. A educação é direito de todos, mas o acesso não é fácil. Epidemias de cólera são constantes. Os hospitais, na sua maioria, são particulares, mas boa parte da população não tem acesso. Ainda há contrabando, de coisas e de gente, até crianças são mercadorias. A República é governada por um presidente que mais parece um rei. Como diria o senador Cristiano Otoni: É uma vergonha.
O país pouco mudara. Ainda tem Casa Grande e Senzala.
– Até quando, amigo Humberto, a nação brasileira vai esperar por um futuro melhor?
– Sim, Felipe, até quando?”

Edson Amaro é licenciado em Letras pela Universidade Federal Fluminense, professor da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro e militante do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação).

O camponês escritor da seca

Só agora li um livro que há tempos aguardava a vez na minha estante: O Martírio dos Viventes, de Paulo Cavalcante. Eu o adquiri durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2007, local do evento. Isso mesmo: o autor não tinha permissão para expor a sua obra lá dentro, concorrendo com os estandes das grandes editoras, e ficou lá fora, escritor sem-status, oferecendo aos passantes a sua obra. Falei, então, para ele do grande dramaturgo Plínio Marcos, que também não era bem-vindo a esses evento lítero-consumistas e ficava do lado de fora vendendo cópias de seus dramas magistrais.
Muito já se produziu sobre a catástrofe das secas recorrentes no Nordeste em todas as formas de expressão artística: na literatura (O Quinze, de Rachel de Queiroz e Vidas Secas, de Graciliano Ramos são os grandes clássicos sobre o tema), no cinema (Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha), na pintura (Os Retirantes, de Portinari) e na música Asa Branca e A Triste Partida, na voz de Luiz Gonzaga são inesquecíveis).
O romance do qual falo não é apenas uma obra a aumentar a já enorme lista de obras de arte sobre o tema: é escrita por mãos de origem camponesa, com a linguagem dos camponeses. A licenciatura em História pela Universidade Estadual da Paraíba é apenas mais um elemento do vasto currículo do autor: “camponês, office-boy, copeiro, cozinheiro, balconista e garçom”, como ele se apresenta na orelha do livro. O livro não é autobiográfico, mas nesse caso a experiência de vida do autor pesou vem na composição da obra: ele escreve documentando os costumes e a psicologia camponesa, com a autenticidade de quem conhece de perto a vida dura dos seus personagens, por ter com eles convivido e junto a eles lutado pela sobrevivência.
A época do romance são os 21 meses de estiagem que torturaram a Paraíba entre os anos de 1992 e 1993. A estrutura do romance, que conta as diferentes trajetórias de Zé Mocó e família, do ancião Argemiro e de Miguelão, não lhe dá a unidade narrativa de Vidas Secas, nem é, como o livro de Graciliano, construído sobre a alternância seca-chuva-seca (o que impede que se ponha um ponto final nesse clássico). O Martírio tem início com a seca e finda com a chegada das chuvas, mas, em suas páginas, a lembrança de várias obras anteriores nos vem à mente: o velho Argemiro lembra bem a Mãe Nácia de O Quinze, com o seu apego à terra e sua recusa em deixá-la; a referência às provas de chuva (as pedras de sal no dia de Santa Luzia, a barra no alvorecer do dia de Natal, entre outras) lembra a exposição dos costumes populares nos versos de A Triste Partida, de Patativa do Assaré e a migração da família lembra os retirantes de Vidas Secas.
É, aliás, a migração da família de Zé Mocó que faz esse texto distanciar-se da narrativa de Graciliano. O mestre alagoano suspende a escrita do seu romance quando a família de Fabiano e Sinha Vitória deixam o sertão com destino à cidade, enquanto Paulo Cavalcante acompanha os seus migrantes para falar de suas desventuras longe do lugar onde nasceram e viveram. Sem te ronde morar, constroem junto a um lixão um barraco, onde aguardam a volta das chuvas, na esperança de retornar ao pequeno pedaço de terra que ocupavam havia mais de uma década no interior. Lá, Zé Mocó passa a se chamar Zé do Lixo e, excluídos do convívio social, acompanham à distância a vida na cidade.
Chegam, enfim, as chuvas e o final do romance não é feliz: quando as águas voltam, Zé do Lixo recebe a notícia de que o latifundiário que lhe era vizinho aproveitara a ausência da família para derrubar seu casebre e incorporar a sua pequena posse à grande propriedade. Bem denunciava Patativa em A Triste Partida que a seca beneficia o latifúndio, triste realidade de um país cujas leis não limitam a propriedade.
AMARO, Edson. In: Revista Sem Terra, no 51, São Paulo: MST, julho/agosto de 2009, pág. 54.

Comentário a um capítulo d'A Divina Comédia, de Dante

Comentário a um capítulo d’A Divina Comédia, de Dante.

Foram Paolo e Francesca condenados
Ao Inferno Segundo e à má sorte.
A culpa foi tão só de Lancelote
E dos amores seus tão bem narrados?

Ou apontou Cupido esse Norte
De preceitos morais sendo quebrados
Pela vontade só dos namorados
Cujo sangue pagou alheio dote?

Absolvida pois seja a leitura
Dos venéreos pecados do guerreiro
Que à paixão proibida se rendeu.

Quisera ter tal sorte também eu.
O amor é pecado prazenteiro
Sem o qual é o Céu uma tortura.
(23 de setembro de 2001, versão final em 11 de junho de 2003.)

Ahmadinejad e a imprensa internacional

O presidente do Irã está muito longe de ser um santo, mas tem uma coisa que os jornalistas do mundo inteiro omitem, quando criticam o programa nuclear iraniano: quem foi mesmo que jogou aquelas bombas atômicas no Japão? Não foi aquele país cujas empresas financiam o jornalismo do mundo inteiro, mata todos os anos uma porção de gente na cadeira elétrica e fica exigindo que os outros países respeitem os direitos humanos? Se Ahmadinejad não merece tapete vermelho, menos ainda merecem os estadistas daquele país cujo presidente ganhou o Nobel da país e continua oprimindo o Iraque.
Sobre a perseguição aos homossexuais, todos os países muçulmanos oprimem os homossexuais, mas a imprensa internacional só critica o Irã. Será por que somente o Irã contraria os donos do mundo, que não querem que eles desenvolvam seu programa nuclear? Aqui mesmo na América Latina, temos vários países que consideram crime "o amor que não ousa dizer o nome": Guiana, Belize, Antigua e Barbuda, Barbados, Dominica, Granada, Jamaica, São Cristóvaõ e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Trinidad e Tobago. Alguém aí defende que o Brasil não tenha relações diplomáticas com algum deles?Não sei quem é mais intolerante: Ahmadinejad contra os homossexuais ou a imprensa brasileira contra quem não obedece os EUA.