É uma piada de muito mau gosto chamar o Brasil de "país em desenvolvimento". Não pode ser considerado um país em desenvolvimento um lugar em que o meio ambiente continua sendo constantemente agredido apesar de todos os alertas que recebemos não tanto dos meios de comunicação, mas da natureza; um país em que são raras as bibliotecas; em que as pessoas têm de pagar para ter algum lazer, pois os espaços públicos onde fruir o tempo livre em segurança não são muito comuns; em que as escolas formam analfabetos funcionais; um país cuja segurança alimentar é ameaçada pelo aumento escandaloso dos transgênicos, que nos fazem campeões mundiais em consumo de agortóxicos e reféns das multinacionais que os produzem. Isso são apenas alguns itens de uma lista interminável de atrasos que sofremos, por obra e graça de nossos governantes que não têm projeto de país. Isso é assim desde o Ipiranga, quando aceitamos que um portuguesinho mimado se tornasse imperador ao invés de proclamarmos nossa República, como o fizeram os demais países do continente.
É também uma piada de mau gosto quando se fala de inclusão digital se nós nem chegamos à democratização do livro e da leitura, revolução operada por Gutenberg no tempo das Grandes Descobertas, como bem lembrou Castro Alves no poema "O Livro e a América": "o século que viu Colombo / Viu Gutemberg também".
Nossas elites, e, por tabela, a massa alienada, adora imitar os EUA no que eles têm de pior: o consumismo, o conservadorismo e costumes totalmente deslocados de nossa realidade: comemorar o Halloween, idealizar um Natal nevado (que estupidez as montanhas de algodão que são gastas nos enfeites de Natal para imitar a neve que não temos!). Mas não imitam no que há de realmente progressista naquele país: o voto facultativo, a autonomia dos estados, a vulgarização dos livros.
Durante a Segunda Guerra Mundial, logo que o Brasil se juntou aos países aliados, Erico Verissimo foi convidado a dar palestras em uma universidade americana sobre literatura brasileira. Política de boa vizinhança. As suas experiências nessa primeira viagem aos EUA estão no livro "Gato Preto em Campo de Neve". Lá ele relata como as editoras democratizaram o acesso à leitura: tanto os clássicos da literatura quanto os mais novos títulos aparecem em edições populares e baratas, nada luxuosas, nas bancas de jornal.
Mais de 60 anos se passaram e quem vai ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro pode encontrar, na Livraria da Travessa, obras como "The Last Man", de Mary Shelley, maravilha de 395 páginas (incluindo as notas), publicado por Wordsworth Editions, por apenas R$ 9, 90. Quanto custaria se estivesse em português, publicado por uma editora brasileira?
sábado, 28 de novembro de 2009
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