tag:blogger.com,1999:blog-71096304940786712392023-06-20T05:25:08.143-07:00Arte, política e heresiasO título já diz tudo.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.comBlogger50125tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-50973733074963358102011-07-15T05:01:00.000-07:002011-07-15T05:01:08.194-07:00CORDEL DESENCANTADOCORDEL DESENCANTADO<br />
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Cavendish emprestou um helicóptero<br />
Pro Cabral descansar lá na Bahia<br />
(Pois com nosso dinheiro uma orgia<br />
Fazem as empreiteiras diariamente)<br />
Enquanto nosso povo descontente<br />
Aplaudia os bombeiros que o tirano<br />
Aprisionara num ato desumano.<br />
As escolas estavam já em greve<br />
Pra cobrar do governo o que se deve<br />
Nos dez pés de martelo alagoano.<br />
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Despencando no mar a aeronave,<br />
Revelou-se o que estava escondido,<br />
E não foi o imbróglio desmentido;<br />
Antes o mar de lama fede mais,<br />
Isenções descobrindo-se imorais<br />
Como de que só lucra envenenando<br />
O povo pobre que sofre a consequência<br />
Do desenvolvimento da demência<br />
Nos dez pés de martelo alagoano.<br />
<br />
<br />
<br />
A Krupp no sertão matou Canudos;<br />
Em Santa Cruz matando está os pobres<br />
Sem pagar ao Estado os seus cobres<br />
Que na Saúde deviam ser usados.<br />
Educadores gritam indignados<br />
Contra um secretário leviano<br />
E seu plano de metas mais que insano.<br />
Para que nos livremos desse mal<br />
Gritemos juntos contra o vil Cabral<br />
Nos dez pés de martelo alagoano.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-52933700675192707082011-04-17T10:57:00.000-07:002011-04-17T10:57:12.242-07:00O cinema 3D reabilitado!Finalmente uma produção que justificou a existência da tecnologia #D. Na minha última postagem, falei, mais uma vez, contra o cinema 3D, mas assistir a ópera "Carmen", de Bizet, em 3D foi a experiência artístic amais emocionante que já vivenciei numa sala de cinema. Foi melhor que ver a ópera em um teatro! O maestro e os cantores estavam quase sempre de corpo inteiro na tela. As aproximações eram, no máximo, do joelho para cima, então não tínhamos que suportar aqueles closes ridículos que fazem cabeças enormes saltarem da tela. Isso tornou mais verossímeis as imagens. Era como se estivéssemos no palco, junto aos intérpretes. Sentimo-nos no meio do coral das crianças. E a chuva de pétalas que festejava a entrada dos toureiros foi um encanto! Parecia que podíamos tocar as pétalas que caíam diante de nossos olhos.<br />
Pela primeira vez, uma produção em 3D que valeu a pena ter sido feita.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-37854834714783460922011-03-06T06:29:00.000-08:002011-03-06T06:29:49.526-08:00Cinema 3DDetesto cinema 3D. Minha única experiência até agora foi com o filme "Fúria de Titãs". Ingresso mais caro, aqueles óculos que cansam a vista da gente (não aguentei ver o filme todo com eles) e um péssimo roteiro. A nova versão só supera aquela que eu vi tantas vezes na minha infância no quesito efeitos especiais, que estão mais modernos, a tecnologia avança, mas o filme foi só um pretexto para exibir essa nova tecnologia. Acho que atores não deveriam se rebaixar a participar de filmes que valorizam mais a computação digital que a eles próprios.<br />
E domingo que vem vou assistir "Carmen 3D". Eu já tinha comprado um ingresso quando arranjei o DVD da ópera numa banca de jornal, versão antiga com José Carreras representando Don José. A ópera é magnífica. Não precisa da inútil tecnologia 3D para encantar o público. <br />
Agora que já gastei o dinheiro com o ingresso, quero ver a atuação dos intérpretes, os cenários, os figurinos, coisas que eu curtiria muito bem em 2D, porque nós sempre percebemos os filmes exibidos em duas dimensões como se tivessem três, pois nosso mundo é tridimensional e nossa mente está programada para entender as imagens dessa maneira. Quando um carro aparece pequenino na tela e vai crescendo, nós entendemos que ele se aproxima, pois é assim que nós vemos a aproximação dos objetos na vida real.<br />
O cinema 3D não é mais que isso: os dois objetos mais próximos da câmera se destacam, parecem sair da tela, mas continuam planos, não se parecem reais como se estivessem em carne e osso diante de nossos olhos. Então se nao dá pra ver "Carmen" no teatro, seria melhor fazer o filme em 2D mesmo. Ficaria mais barato.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-5639461069894446662011-01-29T09:30:00.001-08:002011-01-29T09:30:59.379-08:00O merecido Nobel de Literatura para o reacionário Mario Vargas LlosaNão concordo nem um pouco com as ideias políticas de Mario Vargas Llosa, que está sempre falando em liberdade, mas usa essa palavra para justificar as doutrinas político-econômicas neoliberais, que semearam miséria por onde passaram e só aumentaram as desigualdades sociais, mas, certamente, ele merece ser apontado como um dos melhores escritores da língua espanhola.<br />
Às vésperas do Nobel se referiu de maneira desrespeitosa e injusta ao presidente Lula, mas o Brasil ao menos lhe deve reconhecimento pelo seu magnífico livro A Guerra do Fim do Mundo, um romance estupendo sobre a guerra de Canudos, um dos mais sangrentos episódios de nossa História. O filme Guerra de Canudos (1997), de Sérgio Resende, estrelado por Paulo Betti e Marieta Severo, assemelha-se mais com o romance de Vargas Llosa que com Os Sertões, de Euclides da Cunha, e o jornalista careca interpretado por Bontempo é a cópia fiel do jornalista míope do romance que renasce intelectualmente após a aventura de Canudos.<br />
Agora mesmo divirto-me lendo Tia Julia e o Escrevinhador, um romance autobiográfico em que a figura de um escritor de novelas de rádios nos leva a meditar sobre o que é realmente a Literatura e qual a sua função na sociedade.<br />
Recentemente, Mario Vargas Llosa declarou-se preocupado com os rumos da Venezuela de Chávez que, segundo ele, está para transformar-se numa segunda Cuba. Se lembrarmos que Cuba é um país tropical sem doenças tropicais, livre do analfabetismo e onde o D. Quixote de Cervantes, base da língua espanhola moderna, é um livro presente em todas as casas e lido por todos os estudantes, não parece ser tão mal assim.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-88023183286356816172011-01-23T16:13:00.001-08:002011-01-23T16:13:54.900-08:00Fribugo 4O Jardim do Nego apareceu na TV. Nem todas as esculturas foram danificadas e o artista está disposto a reparar as que sofreram danos. Agora é seguir em frente.<br />
Quero visitar Friburgo o mais rápido possível e conhecer esta maravilha da Região Serrana.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-55654928246330290572011-01-23T16:11:00.001-08:002011-01-23T16:11:58.076-08:00Hitler ficaria felizAlguém atende o telefone e recebe instruções para trair o seu grupo em troca de dinheiro. "Você é o sabotador". E o canalha aceita o papel que lhe dão. <br />
Alguém atende o telefone e lhe dizem que deve escolher alguém para ficar 17 horas angustiantes numa solitária. E cumpre a tarefa. <br />
A mensagem é clara: cumpra as ordens que receber, mesmo que assim você prejudique as pessoas. Pensem apenas em si mesmo! Hitler aplaudiria de pé esse programa.<br />
Se houvesse um chefe de Estado neste país, a Globo teria saído do ar imediatamente após a exibição do primeiro Big Bosta.<br />
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E por maior ironia, após esta merda será exibida uma minissérie sobre Chico Xavier, que passou a vida ensinando e praticando o amor ao próximo.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-62966012430144309922011-01-23T15:53:00.000-08:002011-01-23T15:53:59.634-08:00Friburgo 3Quando soube pelo telejornal da Globo que a igreja Nova Vida de Teresópolis tinha virado um necrotério, pois o IML municipal não tinha espaço para tantos corpos, pensei: "Fizeram isso com o consentimento da cúpua da igreja, que já deve estar se mobilizando para ajudar as vítimas da catástrofe". Corri à igreja Nova Vida de Alcântara oferecer-me como voluntário. Foi um dos diálogos mais surreais da minha vida. A recepcionista ficou maravilhada e queria me converter, disse que eu, com tanta disposição para ajudar, seria um ótimo missionário na Índia. (Ser missionário é algo tão complexo que até Homer Simpson já foi um...) Ah, que trabalho explicar que eu não estou interessado em igreja nenhuma, que quero só ajudar as pessoas. "Se a televisão tivesse falado de uma igreja católica, de uma casa espírita, de um terreiro de candomblé, eu iria me apresentar lá da mesma forma."<br />
Não acreditava que me chamassem depois desse diálogo, mas me chamaram e passei a semana quase toda - exceção da quinta - trabalhando como voluntário, separando as doações - a maioria roupas, o que está longe de ser o mais necessário. Roupas são usadas várias vezes: os alimentos são usados só uma vez.<br />
E há quem atrapalhe os voluntários, doando roupas imprestáveis. Carregamos peso e perdemos tempo separando o que só serve para o lixo. E acham que fazem caridade.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-1520071200419658362011-01-16T05:47:00.000-08:002011-01-16T05:47:12.739-08:00Friburgo 2A impressão que tenho, pelas notícias que me chegam, é que, nestes 200 anos, as belezas de Friburgo foram construídas ao Deus-dará, à moda liberal do "Deixa-fazer-deixa-passar". Quem tinha dinheiro para fazer, fazia, sem intervenção do Estado, que nunca pensou se haveria riscos futuros.<br />
O que D. João VI fundou foi uma comunidade de agricultores e artesãos católicos (alguns protestantes vieram escondidos) que povoariam aqueles vales. Nunca pensou o monarca que a cidade cresceria tanto. Ninguém há 200 anos pensaria na população que temos. As vacinas, a medicina, a civilização do petróleo, a Revolução Industrial tornaram possível tal crescimento da população e das cidades. De todos, o menos culpado, creio eu, seja o rei.<br />
Mas quando se constrói próximo a um rio... Os rios transbordam um dia. É só questão de tempo. O rio Bengala dessa vez teve água que estreitasse suas margens. E a solidez das montanhas, quem poderia atestá-la a 200 anos? Mas, urbanizando-se o espaço, a tecnologia evoluindo, e a ciência pesquisando, nunca se pensou em analisar aquelas encostas? <br />
As mudanças climáticas tornam cada dia mais necessárias as cidades planejadas. O liberalismo mata.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-87683284714654982062011-01-16T05:38:00.000-08:002011-01-16T05:38:53.047-08:00FriburgoMinha vontade era estar agora em Friburgo.<br />
Lá estive por duas vezes: uma em abril de 2010, feriadão de Tiradentes, e dia 7 de janeiro deste ano, sol forte, ruas cheias, gente curtindo as férias naquela linda cidade.<br />
Friburgo é uma daquelas cidades que dão orgulho a seus habitantes. Quem mora lá sabe o quanto ela é amada e desejada por quem mora lá em baixo, ao nível do mar, e gosta de passar lá os dias livres. As pessoas comentam com você a História da cidade, indicam onde ir e o que fazer. Preservam o mobiliário urbano. Ou era assim, até esta semana.<br />
Dá uma angústia ouvir importente o noticiário catastrófico. Pensar que Friburgo se estende entre montanhas, que muitas ruas sobem por elas, que é uma cidade aprisionada em vales verdes, cujos montes podem desabar - e alguns já estão - nos deixa inseguros.<br />
As imagens de Olaria inundada. As vidas afogadas, o comércio de roupa íntima arruinado, a igreja de Nossa Senhora das Graças, obra de Lúcio Costa, o que é dela? Na melhor das hipóteses, refúgio de desabrigados e que a água não suba outra vez para de lá expulsar quem de suas casas já foi expulso.<br />
O teleférico está condenado? O medo que senti quando subi o primeiro estágio. Ninguém mais terá aquela visão? E a igreja de Santo Antônio na Praça do Suspiro, com uma parede destruída? Poderá ser restaurada? Ou será condenada por medo de futuros deslizamentos? A Praça das Nações foi soterrada, onde encontrei-me com a magnífica Fátima Serafim, cantora de fados. E a igreja luterana, primeira do Brasil com esse nome? E a prefeitura, onde recebeu-nos o Chico Figueiredo, quando fomos, Jó Siqueira e eu, falar de teatro e de cultura?<br />
E o Jardim do Nego, que eu não pude conhecer e deixei para outra oportunidade? E a Queijaria Escola? E o Museu da Colonização, instalado em suas dependências?<br />
Quero ir a Friburgo o mais rápido possível...Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-67204491527385542792011-01-11T20:11:00.001-08:002011-01-11T20:11:40.091-08:00"Presidenta" sim, por que não?Não admitir que se trate Dilma Rousseff como "presidenta" é puro preconceito linguístico, porque uma palavra passa a existir no momento em que ela é usada e o seu uso frequente entre os falantes faz com que ela crie raízes definitivas. É assim que a língua se transforma. Foi assim que a palavra "orfindade", que Camões usa no Terceiro Canto de "Os Lusíadas", estrofe 125, poema maior de nossa língua, virou "orfandade". Que "despois", na estrofe 118 do mesmo Terceiro Canto virou "depois" e assim vai. Os exemplos são inumeráveis.<br />
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Para quem não assistiu "José e Pilar", documentário sobre o cotidiano do casal José Saramago (único autor da Língua Portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura) e sua esposa Pilar del Rio, jornalista e tradutora de sua obra para o espanhol, a hoje viúva do mestre se declara "presidenta" da Fundação Cultural José Saramago. Ela argumenta no filme que a palavra "presidenta" não existia porque não existia o cargo. Uma vez existindo uma mulher que preside, ela pode (e deve, segundo Pilar) ser chamada de "presidenta". Se José Saramago não a corrigiu, quem é que corrigirá?<br />
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Edson Amaro de SouzaEdson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-1868560126290304542011-01-01T15:11:00.003-08:002011-01-01T15:11:46.806-08:00Errei, mas não muitoEm postagem anterior, disse que Dilma evita falar de seu passado de guerrilheira. Em seu discurso de posse, ela disse querer compartilhar com os que perderam a vida lutando contra a ditadura aquela conquista e assim honrá-los. Postura bem diferente ela teve durante a campanha eleitoral, quando não lhes dedicou uma sílaba.<br />
Se quer honrá-los, PRESIDENTA (sim, vamos usar a forma feminina do cargo) abra os arquivos da ditadura. Outros países o fizeram e o mundo não acabou por causa disso.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-45971071625417916742011-01-01T12:48:00.001-08:002011-01-01T12:48:54.897-08:00O que tenho contra Dilma? Pessoalmente nada.Mas gostaria de ter na presidência uma mulher que se orgulhasse de sua rebeldia juvenil, que falasse sem pudor de como enfrentou a ditadura, quando era chamada de “terrorista”. (E Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Figueiredo, Carlos Lacerda, Antônio Carlos Magalhães, Paulo Maluf e tantos outros que participaram da derrubada de um governo democraticamente eleito e colaboraram com uma ditadura que torturou, matou, sequestrou, cassou direitos políticos, censurou, aumentou a dívida externa, fechou os olhos para a miséria, planejou a Transamazônica para melhor destruir a floresta, quis empurrar goela abaixo dos índios essa civilização predatória nossa etc. merecem que nome mesmo?) Não me agrada ter na presidência uma pessoa que diz que pagamos a dívida externa sem que jamais governo algum tenha feito a auditoria prevista na Constituição de 1988 e ainda por cima se orgulha de emprestar dinheiro para o FMI, uma instituição que mata mais do que o nazismo, pois condena metade da humanidade à fome, ao analfabetismo, à poluição, à destruição ambiental, à escravidão, às doenças mais repugnantes e remediáveis, que coloca os automóveis acima dos homens e mulheres, que senta-se à mesa com fabricantes de armas, que finge não saber quem lucra com o tráfico de drogas, que mantém abertas as veias da América Latina.<br />
Vocês têm certeza que aquela jovem contestadora não morreu nos porões da ditadura?Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-40041322756009084842011-01-01T11:56:00.001-08:002011-01-01T11:56:57.659-08:00Resposta a Romário Regis, entusiasta de Dilma RoussefRomário, fique tranquilo. Acordei com a impressão de que nenhum de nós, que votamos no ano que passou, viverá para ver a volta do PSDB à Presidência. Um partido que perde uma eleição para alguém como dia, que tem uma performance pública, um jeito de comunicar-se pior que o da Fátima Bernardes, é porque perdeu de vez o bonde da História.<br />Não é a criação um Ministério que resolverá o problema da juventude. Se fosse necessário criar um ministério para cada problema deste país, logo haveria mais ministros que contribuintes.<br />Não assisti o discurso de posse de Dilma. Enquanto ela discursava em Brasília, revisitei Drummond. <br />Ter uma mulher na presidência do Brasil é tão importante quanto ter um negro na Casa Branca, mas isso só não basta.<br />De Dilma, espero tão só que ela tenha coragem de abrir os arquivos da ditadura. É o mínimo que ela pode fazer em homenagem aos seus companheiros de clandestinidade, uma época gloriosa de sua vida da qual ela evita falar.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-74499995963394030262011-01-01T11:53:00.000-08:002011-01-01T11:55:34.859-08:001o de janeiro: Dia de finadosNão gosto do reveillón, porque ele é para mim o verdadeiro dia de finados. No último dia do ano, sempre lembro as pessoas cujos vultos desapareceram “na extrema curva do caminho extremo” e que não estarão comigo para testemunhar e partilhar as alegrias e dores vindouras. Este ano incomodaram-me o assassinato de Alexandre Ivo, de quem não posso me dizer amigo, pois só trocamos umas trinta palavras, uma semana antes de ser ele trucidado pelos filhos de Hitler; derramei muitas lágrimas pelo passamento de Regina Célia, companheira de lutas no Sindicato, mas ela dormia tão plácida em seu esquife que desejei dormir assim quando minha hora chegar; e foi-se o José Saramago, lá em Lanzarote, distante fonte de alegrias.<br />É uma noite ruim, pois me é negado o sagrado – ainda que não constitucional – direito de dormir em paz, pois os fogos são como fuzis que atirassem contra qualquer movimento de Morfeu. Fico acordado até tarde contra a vontade. <br />Nos últimos minutos de 2010 e primeiro de 2011 estava lendo “A Interpretação dos Sonhos”, de Freud.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-68728132738103675302010-12-18T08:37:00.000-08:002010-12-18T08:46:01.204-08:00Honestidade se aprende na escola?Esses dias uma amiga de infância me convidou para sua formatura em Educação Religiosa, e eu fiz em seu Orkut uma pergunta que ficou sem resposta até agora: Educação Religiosa tem alguma coisa a ver com honestidade?<br /> O Estado é laico e assim deveria ser também a Escola pública, mas aqui no Rio de Janeiro uma lei absurda da ex-desgovernadora Rosinha Pocotó instituiu as aulas de Religião nas escolas estaduais. Que, como diz a LDB, não podem ser obrigatórias, mas nenhuma direção tem a decência de dizer isso aos estudantes e nem o dizem o(a) professsore(a)s de religião, sob risco de ficarem com as salas vazias (jogar futebol, peteca, brincar de pique, beijar na boca etc são atividades mais interessantes). E aí, a pergunta que não quer calar: como ficam os direitos dos ateus, agnósticos e hereges em geral? Porque a liberdade religiosa é também a liberdade de não ter religião.<br /> Mais: como dá pra conciliar dogmas que dizem que Deus criou o mundo em seis dias com as descobertas da Ciência que apontam tantas eras geológicas, que levaram milhões de anos cada uma? Como conciliar a Educação Sexual com o obscurantismo bíblico que declara imundo e pecaminoso tudo que diz respeito à sexualidade? Como dizer que o arco-íris é um milagre concedido como lembrança do Dilúvio, quando sabemos que é apenas a fragmentação d aluz do Sol ao passar pelas gotinhas de chuva? <br /> E o que pensarão essas crianças desses professores desonestos quando crescerem e aprenderem na Legislação que foram manipulados pelos interesses obscurantistas das igrejas e de uma escola pública falida? Que lhes negaram a liberdade de escolha?Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-76875502450679506772010-11-29T20:59:00.000-08:002010-11-29T21:07:35.708-08:00Vitória sobre o tráfico ou Papai Noel existeSe eu acreditasse em Coelhinho da Páscoa, estaria aplaudindo de pé as operações nas favelas cariocas de enfrentamento ao tráfico, saudadas pelo jornalismo dependente das verbas estatais como a solução para todos os males. Só os crédulos acreditam que tudo vai continuar assim nos próximos seis meses.<br /> Quando a TV exibe as mansões dos traficantes, as repórteres se deslumbram e fingem gozar de alegria como atrizes de filme pornôs. Por que não mostram as mansões dos fabricantes das armas que o tráfico usa: aqueles bilionários que têm suas ações na Bolsa de Valores de Wall Street, os principais beneficiados com o tráfico de entorpecente e com o combate a esse mesmo tráfico, porque também vendem seus aparelhos de matar aos policiais e aos exércitos de todo o mundo?<br /> Fuzis e granadas não nascem em árvores, mas questionar a procedência deles, o seu nascedouro, é pecado mortal, pois causaria um terremoto nas Bolsas de Valores.<br /> Sendo assim, acabemos logo o tráfico: legalizemos as drogas, pois quem usa não vai deixar de usar em nome do bem público, como ninguém deixou de usar álcool nos anos 20 e 30 nos EUA devido ao puritanismo da Lei Seca. É melhor que os produtores de entorpecentes paguem impostos e assinem a Carteira de Trabalho de seus funcionários, como fazem os produtores de bebidas alcoólicas.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-33653947742857779682010-11-06T16:22:00.000-07:002010-11-06T16:23:29.733-07:00Palavras de Pepe Mujica, presidente do Uruguai"Que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes?<br /> <br />Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e super-mulheres e não se equivoquem. <br /> <br />Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu. Vêm entregar a alma por um punhado de sonhos.<br /> <br />Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.<br /> <br />Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".<br /> <br />Pepe Mujica - Pres. UruguayEdson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-44300822281605285812010-11-06T16:13:00.000-07:002010-11-06T16:15:13.003-07:00Comentário sobre Monteiro Lobato a propósito do texto de Marisa Lajolo; enviado à prof. Iza Gonçalves QuelhasQuerida Iza,<br /> <br />não tenho muito tempo para ver noticiários, mas a discussão sobre o livro de Monteiro Lobato chegou à sala dos professores de uma das escolas em que trabalho. (Deve ter chegado na outra também, mas por motivos de saúde, não estive lá.) É um livro infantil que tornou-se tragédia grega. Sim, Monteiro Lobato é maior nome da literatura infantil brasileira; sim, eu sou contra a censura; sim, eu sou contra o racismo; sim, os livros de Monteiro Lobato estão repletos de ideias racistas e machistas. Não, não podemos tapar o sol com a peneira e fazer de conta que vivemos uma democracia racial. <br />Emília, a personagem mais popular de Lobato, trata tia Nastácia indecentemente do começo ao fim das estórias (vamos ver isso apenas como uma revolta da criatura contra o criador?) embora D. Benta a repreenda. Mas a própria D. Benta chama Tia Nastácia de negra ignorante em "História do Mundo para Crianças". Em "O Poço do Visconde", ela dorme o tempo todo durante as aulas de Geologia do Visconde e diz que tudo aquilo é só história de "peixe podre", desconsiderando uma discussão fundamental para o futuro do Brasil. Em "Emília no País da Gramática", Quindim, ao explicar o que é estilo diz que, "se um dia Pedrinho se tornar escritor". Tinha que ser o Pedrinho? Por que não a Narizinho? E desgraçadamente Monteiro Lobato, na Revolução Constitucionalista de 1932, dizia que aquela guerra deveria ser não para exigir uma Constituição para o Brasil, mas que São Paulo tinha que aproveitar a ocasião para se emancipar do Brasil, assinando embaixo da opinião rancoroso que dizia que São Paulo era a locomotiva que arrastava os outros estados brasileiros.<br />Quase diariamente vemos manifestações de racismo em sala de aula. Uma vez em que um livro escolar fazia referência ao texto do Gênesis da Criação do Mundo e queria mostrar aos alunos o poder criador da palavra, eu, para ajudá-los a chegarem onde o autor queria que chegassem, contei a eles a história da Criação do Mundo segundo o candomblé, no qual não se usa a palavra para criar. Os evangélicos taparam os ouvidos. A política de extermínio de pobres e favelados é aplaudida por pobres que não moram em favela. Uma aluna que se diz evangélica esqueceu as lições de amor e dignidade do Evangelho quando eu estava comentando a situação carcerária do país. Comentei a entrevista de uma padre da Pastoral Carcerária que visitou um desses campos de concentração transformados em museu e disse que havia mais conforto lá que nos presídios brasileiros. Ela me perguntou: "E você acha que bandido tem que ter conforto?" Quer dizer, ela acha certo colocar 100 homens onde só deveria caber 30 ou 40!<br />E os casos de bullying? (Por que não usam o termo nativo "zombaria" ao invés de importar um termo inglês?) Imagine que reforço para as zombarias contra os que são diferentes (negros, favelados etc.) se colocarmos nas mãos de alunos que não têm hábito de leitura nem consciência crítica termos preconceituosos.<br />Vivemos uma época em que os oprimidos disputam o Estado e seus Aparelhos Ideológicos e tentam eliminar preconceitos seculares. E toda a nossa civilização foi construída sobre preconceitos. Vale lembrar que a Bíblia diz que a mulher tem de ser submissa ao marido (então, seria um ser inferior; razão pela qual eu recuso a me casar, pois advogo a igualdade entre os sexos); que quem faz sexo com pessoas do mesmo sexo tem de ser exterminado; vale lembrar que Gregório de Matos despreza os negros; etc. etc. Não podemos fingir que tivemos um passado de glórias, como diz uma mentira chamada Hino Nacional Brasileiro. E como dizer que o futuro será de paz se o futuro começa agora?<br />Monteiro Lobato escreveu dessa forma porque, naquela época, não haiva por parte dos governos a ideia de por todas as crianças na escolas, nem um movimento negro tão atuante como hoje. Seus livros alcançavam a classe alta e a classe média. Mas quando suas estórias viraram seriados de TV, os produtores viram que tinham que pegar leve, não podiam ser fiéis aos livros, ou perderiam seus empregos. Da mesma forma, Margaret Mitchell escreveu um clássico chamado "... E o Vento Levou", lançado nos anos 30. Quando, nos anos 90, Alexandra Ripley se dispôs a escrever a continuação, "Scarlett", teve de dar um tratamento todo diferente para os negros do romance. <br />Marisa Lajolo pode ser uma intelectual competentíssima, mas ela não vive a realidade que eu vivo, trabalhando em escola pública, vendo o fascismo avançar a cada dia, travestido de revelação divina. E quanta gente conquistou cadeiras no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas no último pleito falando contra os direitos humanos? Regurgitando ódio aos presidiários, aos homossexuais, aos ateus, às mulheres pobres que precisam abortar (nenhuma mulher sonha com isso, lembremos sempre)? <br />Esta não é, cara Iza, uma discussão apenas literária, mas também sociológica.<br />Atenciosamente,<br />Edson AmaroEdson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-47744096751923104222010-11-06T16:10:00.000-07:002010-11-06T16:13:26.870-07:00Marisa Lajolo e o veto a Monteiro LobatoMinha querida professora Iza me enviou por email um texto da doutora Marisa Lajolo falando da polêmica causada por uma denúncia contra um livro de Monteiro Lobato. Eis o texto, com algumas aspas que acrescentei porque este blog não reconhece o que é grifado em itálico:<br /><br />"Quem paga a música escolhe a dança?<br /> <br />Marisa Lajolo [1] <br /> <br />“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso . <br />Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente. <br /> Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembléia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e –de novo- é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças ( particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça. <br />Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos. <br />Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares. O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes. <br />Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu ( D. Casmurro, Machado de Assis, 1900) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar .. ! <br />É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação- manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem . <br />Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos. <br />Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos . Trata-se de uma idéia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade contra a nova mulher do papai, mas – ao contrário- pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva... <br />Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação—pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta . E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores . . <br />No caso deste veto a “Caçadas de Pedrinho”, a Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância “de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado” e exige “da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura.” <br />Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso. <br />O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa ? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?), assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC? <br />As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro . Como fecho destas melancólicas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir- será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este modelito da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder ... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê! "<br /> <br /><br /><br />________________________________________<br />[1] Prof. Titular (aposentada) da UNICAMP; Prof. da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Senior do CNPq.; Ex Secretária de Educação de Atibaia (SP); Organizadora ( com João Luís Ceccantini) do livro de Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil) , obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2009 como melhor livro de Não Ficção.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-57632264986226087382010-10-30T23:20:00.000-07:002010-10-30T23:39:06.250-07:00Henrique VIII e Thomas MorusRetomo o tema da postagem anterior.<br />Gostaria que Silvio Pellico tivesse exposto em sua tragédia as razões de Henrique VIII, pois toda a peça é uma defesa de Morus - embora não se entre no mérito dos argumentos que Morus levantava contra o rei: em toda a peça, tudo o que ele diz é que queria ser fiel à religião dos seus pais.<br />Henrique VIII, aconselhado por seu pai, casou-se com a viúva de seu irmão, Catarina de Espanha, porque o velho monarca achava vantajoso manter a aliança com a pátria de Cervantes. Quer dizer, ser rei significa não ter direito ao amor. Verdi diz isso numa das árias de "O Baile de Máscaras". <br />Quando surge a Reforma Protestante, Henrique VIII fez bonito e ganhou prestígio no Vaticano: escreveu um livro chamado "Em Defesa dos Sete Sacramentos". O papa Júlio II gostou tanto que lhe deu o título de "Guardião da Fé" que hoje, Sua Majestade Britânica, Elisabeth II, chefe da Igreja Anglicana, ostenta com orgulho. Júlio II nunca esperaria uma traição justo da parte de Henrique VIII. Acho que aquela pintura de Michelangelo chamada "A Conversão de São Paulo", na Capela Paulina, que mostra Paulo de Tarso caindo do cavalo, é uma referência a isso, pois o apóstolo é a cara do Pontífice. (Será que se eu escrevesse um livro chamado "O Código Michelangelo", expondo minhas interpretações heréticas da obra do florentino, eu ganharia tanto dinheiro quanto o Dan Brown com "O Código Da Vinci"?)<br />Mas todo rei tem certas obrigações. Procriar é uma delas para que o trono tenha herdeiros e não caia nas mãos de uma nobreza estrangeira, como aconteceu com o trono português,do qual os parentes espanhóis de D. Sebastião se apoderaram quando ele e seu tio cardeal morreram ambos sem filhos. (Custava o cardeal dar uma furunfadinha pelo bem da pátria? Quebrava o voto de castidade por algumas noites mas salvava a pátria e poderia se reabilitar depois. Quem sabe conversando ele não se entendia com o Vaticano? Talvez se o Viagra já tivesse sido inventado...) Chega então um momento em que a rainha Catarina, após várias gestações fracassadas, atinge a menopausa, e o rei, cheio de disposição, encontra as meninas da família Bolena. O homem tinha que fazer valer o seu cetro, não era não?<br />Dizem os alemães que uma tragédia é um conflito em que os dois lados estão certos. Sim, o rei fez um juramento de que ia ser fiel à esposa até que a morte os separasse. Sim, esperava-se que o rei desse exemplo de conduta cristã para os súditos. Sim, um rei tem que preservar as instituições. Mas para preservar a instituição da monarquia, a independência da Pátria, ele tem que procriar, e a rainha não servia mais para essa função. E Anna Bolena prestou-se muito bem a essa tarefa. <br />Mas o papa não queria entender. Que outra opção ele tinha senão romper com Roma e fundar sua própria igreja? Tanto pior pro papa, pois Henrique aproveitou para se apoderar das riquezas da Igreja Católica e seus templos. Bom pros padres que, infiés ao papa, puderam casar ou regularizar suas relações com suas amantes. Ruim para os fiéis que pagaram com o sangue a infidelidade. <br />Com sangue e esperma escreveu-se a história da Igreja Anglicana. Está aí uma tragédia para ser escrita.<br />Ah, Saramago, que falta nos fazes...Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-84136581975766736602010-10-30T23:06:00.000-07:002010-10-30T23:19:18.586-07:00Thomas MorusSou apaixonado por palavras. Gosto de ler um bom texto. Não importa a sua ideologia. Gosto de produzir bons textos e quando traduzo nem sempre concordo com tudo quanto traduzo. Mas traduzir um bom texto é um enorme prazer e me sinto amigo dos autores a quem traduzo, e não concordamos com tudo que nossos amigos dizem ou pensam.<br />Dia 29 de outubro estive na SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) para arquivar a tradução que fiz da peça "Thomas Morus", de Silvio Pellico (1789 - 1954).<br />A peça é comovente. Trata dos últimos dias de Thomas Morus, o filósofo autor de "A Utopia", que foi decapitado por não transigir com suas convicções católicas quando Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana. Por isso, João Paulo II, em seus últimos dias, proclamou santo protetor dos políticos. Bem, a memória do papa não andava muito boa, pois, em "A Utopia", Morus defende algumas ideias que o Vaticano condena, como a eutanásia...<br />Falar de religião é falar de sangue, de matança, pois a História das Religiões é a História da Intolerância e da Carnificina. Jorge Amado disse que as terras do sul da Bahia, onde se plantava cacau, são fertilíssimas porque adubadas com sangue humano, adubo sem igual. Se esse adubo for tão eficiente assim, ainda mais férteis são as terras europeias, tal a quantidade de sangue que católicos e protestantes derramaram por lá.<br />É claro que eu preferiria uma tragédia que não tomasse partido nem pelos católicos nem pelos protestantes, que são Montechios e Capuletos com discursos teológicos; uma tragédia como "In Nomine Dei" de Saramago. Mas embora o texto de Silvio Pellico seja explicitamente católico, não deixa de comover o carinho extremado de Margaret por seu pai (várias vezes os dois personagens me fizeram chorar enquanto traduzia) e é admirável a coragem de Morus que, por três vezes, recusa a liberdade que lhe é oferecida. E num momento em que o fanatismo religioso ganha cada vez mais espaço no Parlamento brasileiro, todos os textos que lembrem o quanto de sangue que já se derramou em nome de Deus para derrotar o Diabo (que, se existisse, processaria todas as igrejas por calúnia e difamação) merecem ser lidos e representados.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-73316464070298152682010-10-03T11:03:00.000-07:002010-10-03T11:04:57.952-07:00Para que serve o IBOPE?http://www.youtube.com/watch?v=UrCEIOX3TocEdson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-27831589935018369092010-09-29T06:09:00.000-07:002010-09-29T06:10:26.388-07:0012 PERGUNTAS PARA O PASTOR MALAFAIA12 PERGUNTAS PARA O PASTOR MALAFAIA<br />Pastor Silas Malafaia,<br /><br />Em setembro de 2010, nas vésperas das eleições, o sr. espalhou pelo Brasil outdoors com as palavras “Em defesa da família e da preservação da espécie humana. Deus criou macho e fêmea”. Sua intenção era impedir que os eleitores votassem em candidatos que apoiassem os direitos dos homossexuais e a criminalização da homofobia. Se o senhor tem medo de que a espécie humana deixe de existir por causa dos homossexuais e acha que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais são uma ameaça ao nosso país, gostaria de lhe fazer algumas perguntas: <br />1) O senhor conhece algum país que não tenha homossexuais?<br />2) O senhor conhece algum país que não tenha heterossexuais?<br />3) O senhor conhece um país onde não nasça mais ninguém por causa dos homossexuais?<br />4) Em que artigo da Constituição brasileira está a palavra “pecado”?<br />5) O senhor é a favor da República e do Estado laico ou acha que a religião tem que fazer parte do governo, como na época do Brasil colônia, quando a Inquisição prendia quem não fosse católico?<br />6) O senhor acha que deveria haver uma Inquisição para prender quem não vivesse de acordo com as ideias que o senhor defende?<br />7) Dinamarca, Portugal e Argentina reconheceram as uniões homossexuais. Alguém já foi preso em um desses países por dizer que a homossexualidade é pecado?<br />8) Pelo menos um homossexual é assassinado a cada dois dias no Brasil. Se as pessoas correm risco de serem assassinadas só por serem homossexuais e são humilhadas diariamente com piadinhas, deboches e outros tipos de constrangimentos, por que elas não se tornam heteros se é questão de escolha?<br />9) Por que certas pessoas no Irã continuam sendo homossexuais se sabem que podem ser condenadas à morte por causa disso?<br />10) Por que certos alemães não deixaram de ser homossexuais apesar de Hitler ter tentado matar todos eles nos campos de concentração?<br />11) Não é mais fácil ser heterossexual?<br />12) A Organização Mundial da Saúde diz que não há nada errado em ser homossexual. O senhor entende tanto assim de Medicina a ponto de por em dúvida o que diz a Organização Mundial da Saúde?Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-9737375806759753362010-09-29T00:21:00.001-07:002010-09-29T00:23:03.623-07:00Veste a carapuça, Malafaia!Apesar de um estudo do Grupo Gay da Bahia apontar que a cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil, o pastor Silas Malafaia acha que é paranoia quando nós falamos em homofobia. Ele próprio é um exemplo disso quando espalha pelas nossas cidades outdoors falando em defesa da "preservação da espécie humana". Ora, sr. Malafaia, os homossexuais não ameaçam a espécie humana, pois qualquer pessoa que tenha lido algo mais além de revistas em quadrinhos sabe que em todos os lugares e em todas as épocas pessoas mantiveram relações AMOROSAS homossexuais e a humanidade continuou existindo, pois os homossexuais sempre foram e serão minoria. Uma minoria que tem o direito de viver e não quer continuar sendo caçada simplesmente por AMAR diferente. E quer ter os mesmos direitos dos casais heteros (adoção, comunhão de bens, herança etc.). Mais: o Estado é laico e por isso deve visar o bem comum, ao invés de impor à totalidade da população os preceitos de qualquer religião. E caso o senhor alguma vez tenha lido a Constituição, lá não existe a a palavra "pecado".Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7109630494078671239.post-81472090272965372822010-09-19T15:24:00.002-07:002010-09-19T15:25:20.139-07:00CRIVELLA E A JUSTIÇANo seu jornalzinho de campanha, Crivella se diz “o senador da família” e “o senador dos injustiçados”. Isso porque apresentou no Senado um projeto que “denomina convivente o estado civil constituído de união estável”. Meu caro senador, não importa se chamamos isso de “convivência” ou de concubinato, o fato é que, há muito tempo, quando um homem e uma mulher vivem juntos têm os mesmos direitos de quem se casou no cartório. Tudo o que Vossa Excelência fez foi arranjar um nome mais bonitinho. Mais importante seria se esses direitos dos casais heterossexuais fossem estendidos também aos casais homossexuais. Fica aí uma sugestão para depois das eleições.<br /> Ele se diz também “o senador dos injustiçados”. Bem, segundo o Grupo Gay da Bahia, a cada dois dias um homossexual é morto em nosso país só por ser homossexual. Nem no Irã morrem tantos homossexuais! Aqui mesmo em São Gonçalo, o adolescente Alexandre Ivo Rajão foi morto só por causa disso. E o PLC 122, que transforma a homofobia em crime igual ao do racismo continua engavetado por parlamentares conservadores como Vossa Excelência. Que tal assumir que os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais também são injustiçados e fazer alguma coisa em favor deles?<br />Professor Edson Amaro, do CIEP Miguel de Cervantes e do C. E. Trasilbo Filgueiras.Edson Amarohttp://www.blogger.com/profile/18352742489085196719noreply@blogger.com0