domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um texto de Maquiavel, traduzido por mim

Ensaios Sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Livro Terceiro, Capítulo XXIX
Que os pecados dos povos nascem dos príncipes.


Não se lamentem os príncipes de pecado algum cometido pelos povos que eles governam porque tais pecados nascem ou por negligência ou por estar o governante manchado por erros similares. E quem descrever os povos que, em nossos tempos, transbordam de roubalheiras e de semelhantes pecados verá que tudo terá nascido daqueles que os governam, que são de igual natureza.
A Romanha, antes que dela fossem eliminados pelo papa Alexandre VI aqueles senhores que a comandavam, era um exemplo de vidas celeradíssimas, pois lá se via por qualquer coisinha surgirem homicídios e rapinas grandíssimas. Isto nascia da baixeza daqueles príncipes, não da natureza baixa daqueles homens, como diziam. Porque, sendo aqueles príncipes pobres e querendo viver como ricos, tinham de recorrer a muitas rapinas e faziam-nas de diferentes maneiras; e uma dentre as muitas vias desonestas que trilhavam era fazerem leis que proibiam alguma coisa; depois, eram os primeiros que davam razão à sua inobservância e não puniam nunca os desobedientes senão quando viam que havia muitos envolvidos em tal falta, e então recorriam às punições, não porque zelassem pela lei, mas pela ganância de lucrarem com as penalidades . Disso nasciam muitos inconvenientes e sobretudo este: os povos se empobreciam e não se corrigiam e aqueles empobrecidos se empenhavam em se prevalecerem contra o menos influente deles. Disto surgiam todos aqueles males que acima mencionamos dos quais era culpado o príncipe.
Tito Lívio mostra que isto é verdade quando narra que, levando os legados romanos os despojos dos veienses a Apolo, foram aprisionados por corsários de Lipari e levados para a Sicília. Tendo Timasiteo, seu líder, perguntado que dádiva era aquela, para onde ia e quem a mandava, se portou, embora nascido em Lipari, como romano e mostrou ao povo o quanto era ímpio apoderar-se de tal oferenda, tanto que, com o consenso de todos, libertou os legados com suas coisas. E as palavras do historiador são estas: “Timasitheus multitudinem religiose implevit quae semper regenti est similis” . E Lorenzo de’ Medici, confirmando esta sentença, diz:
E quel che fa ‘l signor fanno poi molti,
ché nel signor son tutti gli occhi volti .

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